Os cenários de seca extrema e seca excepcional cresceram no
Nordeste, abrangendo partes de todos os 9 estados. É o que mostra o mapa de
setembro do Monitor de Secas do Nordeste do Brasil. O Ceará é um dos que
apresentam maior avanço da estiagem. Segundo a Fundação Cearense de
Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), 75% do território do estado
apresenta seca extrema ou seca excepcional.
Em relação ao mesmo período do ano passado, o quadro se
agravou de forma significativa na região. Em setembro de 2015, o Maranhão, por
exemplo, possuía áreas de seca grave, moderada e fraca. O mapa de setembro
deste ano mostra grande parte do território do estado com seca extrema.
“O avanço da intensidade de seca mais severa tem atingido
até regiões litorâneas que, geralmente, são mais beneficiadas com chuvas. Por
exemplo, o litoral do leste do Nordeste, desde o Rio Grande do Norte até parte
da Bahia”, cita o meteorologista da Funceme, Raul Fritz.
No Ceará, o mapa do Monitor mostra a expansão da seca
extrema em direção ao norte e o aumento da área com seca excepcional no Centro
Sul. Os contornos de seca extrema em municípios da Região Metropolitana de
Fortaleza também ficam evidentes em setembro. Até agosto, a área apresentava
seca grave.
“Essa situação já era esperada porque, de agosto para
setembro, a ocorrência de chuvas é insignificante e o segundo semestre é
considerado seco. Geralmente, tem um chuvisco ao longo do litoral. Sem chuva, a
condição de seca tende a se agravar. As condições já vinham secas e pioraram
ainda mais”, explica Fritz.
Ele acrescenta que a tendência é de o quadro se agravar até
dezembro tanto devido à ausência de chuva como pela elevada radiação solar, que
provoca a evaporação da água dos reservatórios do estado. Os 153 açudes
monitorados pelo Governo do Ceará possuem, juntos, apenas 8% de sua capacidade.
Em Quixadá, no Sertão Central (a 215 quilômetros de
Fortaleza), não se vê chuva desde o fim da quadra invernosa deste ano (período
entre fevereiro e maio que concentra a maior parte da chuva no estado). O relato
é do presidente da Associação dos Agricultores do Distrito de Riacho Verde,
Francisco Rodrigues. O centenário açude Cedro, símbolo das primeiras
intervenções para enfrentar os efeitos da seca, já não contribui mais nem com
água nem com forragem para alimentar os animais.
“A maioria dos produtores teve que se desfazer do rebanho
para não ver os animais morrerem e alguns que ainda têm gado sobrevivem a duras
penas. Na agricultura, não teve produção porque o inverno foi muito fraco. A
situação está difícil.”
O Ceará enfrenta cinco secas seguidas desde 2011 e a
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) ainda não se
pronunciou sobre a estação chuvosa de 2017. De acordo com o meteorologista da
fundação, ainda não há definições sobre as condições dos oceanos Atlântico e
Pacífico, que influenciam as chuvas no estado.
Pelo quadro atual, conforme Rodrigues, existe uma baixa
probabilidade de que ocorra um El Niño (aquecimento anormal das águas do
Pacífico Equatorial, que atrapalha o regime de chuva). Por outro lado, é
possível que haja La Niña (resfriamento da mesma área do oceano, que têm efeito
inverso do El Niño), mas o fenômeno pode não ser intenso nem se prolongar por
toda a quadra invernosa no Ceará.
“As pessoas, vendo esse resfriamento do Oceano Pacífico,
ficaram animadas, mas a gente tem que ter cautela. Vamos ver se vai se
configurar como fenômeno típico, se vai ter uma intensidade que permita ter uma
repercussão positiva.”
Fonte: Agência Brasil
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